Maternidade, pré parto, sem romantização





    Li por aí à uns tempos que nasce um bebé, nasce uma mãe, nasce uma mãe, nasce um blog de maternidade. Então venho falar do sentimento mais cru e nu que já tive em toda a minha vida, sem preconceito, sem romantização, sem o "momento mais lindo da minha vida".





Não me interpretem mal, hoje que a minha filha já nasceu e já tem 4 meses, amo-a incondicionalmente, mais e mais a cada dia que passa, uma nova forma de amor, uma coisa que nunca senti igual em toda a minha vida. Mas o objetivo é começar pelo principio, pela natureza no seu estado mais puro, a gravidez.

Um sentimento, sem julgamentos, é isso que pretendo, um cantinho online onde posso falar do que gosto, como gosto e como sinto. A experiência na gravidez nada mais posso dizer do que uma entrega, mais pura, mais dura, uma entrega total física, psicológica e espiritual, uma entrega do corpo, da alma, do cérebro, do coração, dar tudo ao manifesto, incluindo a vida.. Uma entrega total ao universo como que se "toma, este corpo agora é teu" uma transformação, fria para umas e cheias de amor para outras. Um deixar de ter amor próprio para amar mais alguém que ainda não existe. Mas a grande questão é : como podemos amar uma pessoa que ainda não conhecemos?" e não, não se sintam no direito de julgar, porque ao longo das minhas pesquisas fui percebendo que este sentimento não é solitário e tenho de ser sincera naqueles 9 meses aprendi que cada gravidez é individual e li, tanta mas tanta coisa que alguma tem de ser verdade, desde amor incondicional, felicidade mais pura a desamor próprio e desapego da vida que se está a gerar, mas acho que há uma verdade universal, é que ninguém está preparado para o que aí vem por muito que se queira ser mãe. Ser grávida, sim não é estar, mas sim ser, durante um período é-se grávida não dominamos nada, não controlamos, estamos só sentadas na plateia a ver a natureza a manipular o nosso corpo de uma forma incrivelmente linda e radical. A cabeça deixa de ser pensante e passa a ser hormonal, uma simples roupa que deixa de servir passa a ser um drama que desencadeia todos os restantes. Chamar-lhe-ia bomba hormonal, sentimentos e sintomas a um extremo como nunca sentimos antes, os bons e os maus.

Claro que, não descartando o facto arrebatador de estar a formar uma vida dentro de mim, que amor era este que toda a gente falava e passava tão despercebido? Continuava a ser eu, a crescer, cada vez maior, com um bebé dentro de mim, ansiosa por conhecê-la, ansiosa por amá-la mas até aí..

Consigo intender quem romantiza a gravidez, porque hoje, olho para traz e até bate uma saudade, mas não podemos esquecer que a natureza por vezes pode ser dura com quem cá anda, pode ser cruel. Hoje neste dia chuvoso, bate uma nostalgia daqueles dias duros que passei, de dúvidas, das dores, do "será que só eu sinto isto?", de solidão, posso dizer de sofrimento, a natureza levou um pouco de mim naqueles dias, não era eu, não estava em mim, estava a sofrer, e se isto era o amor incondicional da maternidade, eu, naqueles dias, não o queria, não estava pronta, mesmo achando que sim, não estava. Acho que ninguém está na realidade, mesmo que a gravidez seja a leveza que tanto falam por aí. Não me entendam mal, mais uma vez, sei que não é igual para todos, mas, eu falo de mim, para muitas. Falo do que sinto, do que senti. A solidão, percebi que a gravidez pode ser dos estados mais solitários que existem, apesar de estar sempre acompanhada, onde estava toda a gente? Onde estavam as pessoas que sempre estiveram? Não lhes apetecia, não queriam, não estavam, é duro, muito duro, perceber que as pessoas já têm os seus problemas e estar com alguém quase que como doente durante 9 meses não é o que realmente querem, mesmo acreditando que gravidez não é doença, hoje digo, pode ser. Não conto pelos dedos a quantidade de vezes que mordi a língua depois de engravidar, como que a provar o meu próprio veneno, um clichê que só sabe quem realmente passa por elas.

Ainda mais falo, da intolerância da sociedade em relação à gravidez, a frieza com que é vista, o desrespeito, as mulheres podem ser cruéis umas para as outras, ainda mais na gravidez, aquilo que sempre achei o contrario, são duras, quase vingativas. Deve ser novamente a natureza a pôr-nos à prova como que se não bastasse o que já é em si.

Cresci, aprendi, a cima de tudo, amo-me um pouco mais e uma coisa que aprendi foi a cima de tudo seguir o meu instinto em vez de seguir o que alguém me diz, dicas à muitas e bitaites também, mas como disse, só quem passa por ela é que sabe o que ela traz. 




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